Pesquisadores obtêm complexos metálicos com atividade antiparasitária
Pesquisadores do Redoxoma, sob a coordenação da professora Ana Maria da Costa Ferreira, do Instituto de Química da USP, obtiveram complexos metálicos que podem ser utilizados em medicamentos para tratamento das parasitoses Leishmania e Trypanosoma cruzi, agentes causadores da leishmaniose e da doença de Chagas.
Os complexos metálicos com ligantes indólicos ou oxindólicos e seus derivados imínicos, bem como seu uso como princípio ativo no preparo de uma composição farmacêutica para uso humano e/ou veterinário para tratamento de parasitoses deram origem a um depósito de patente (registro BR 10 2013 026558 6), protocolado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, INPI, pela Agência USP Inovação.
"Planejamos os ligantes, obtivemos os respectivos complexos metálicos, caracterizamos através de diversas técnicas e os testamos contra T. cruzi e Leishmania. Os resultados mostraram que vários dos compostos têm atividade antiparasitária pronunciada contra T. cruzi, tanto na forma tripomastigota (que é a forma existente dentro do inseto-vetor barbeiro e que é injetada na corrente sanguínea dos humanos) como na forma amastigota (forma que o parasita assume dentro das células, como macrófagos)", afirmou Ana Maria da Costa Ferreira.
Segundo a pesquisadora, “considerando o índice de seletividade LC50 (macrófago)/IC50(parasita), ou seja, concentração necessária para 50% de morte do macrófago/ concentração necessária para 50% de morte do parasita, os índices de nossos complexos são da mesma ordem ou melhores que os da droga atualmente usada contra T. cruzi, benzonidazol, desenvolvida décadas atrás”.
Recentemente, os pesquisadores também obtiveram resultados promissores no uso dos complexos contra Leishmania amazonensis, em colaboração com grupo da professora Marcia Graminha, da UNESP, campus de Araraquara.
Apesar de um possível mecanismo pelo qual esses compostos atuam envolver espécies reativas de oxigênio, eles também inibiram significativamente a enzima topoisomerase IB e moderadamente o proteassoma. “Esta pode ser outra forma de sua atuação, isto é, inibir proteínas específicas através de ligação ao sítio ativo ou em outros sítios vitais para a funcionalidade da enzima ou proteína", explicou Ferreira. Tanto compostos de cobre, que apresentam atividade redox e são capazes de produzir espécies reativas de oxigênio, como compostos de zinco, sem reatividade redox, foram bastante ativos.
Essa classe de compostos vem sendo estudada pelo grupo há mais de 10 anos. “Nosso objetivo principal é elucidar a ação destes ligantes e respectivos complexos de metais essenciais, como cobre ou zinco entre outros, no organismo humano. Tentamos verificar suas possíveis formas de atuação no meio biológico e seus alvos prioritários”, afirma a pesquisadora.
Em 2006, os compostos já haviam sido patenteados como agentes antitumorais (registro BR 2006 00985-A, no INPI). Neste caso, sua ação envolve ligação ao DNA, principalmente às bases, e danos à mitocôndria, atuando como agentes desacopladores e induzindo apoptose. “Os melhores compostos que atuam como agentes antitumorais não são os melhores como agentes antiparasitários, isto é, é possível modular a atividade biológica através do ligante”.
Participam da patente Complexos Metálicos com Ligantes Indólicos ou Oxindólicos e seus Derivados Imínicos e seu Uso Como Agentes Antiparasitários os estudantes Gustavo L. Sabino (Mestrando), Bruno Soares Dario (IC), Ricardo Alexandre Couto (Doutorando) e a pesquisadora Queite Antonia de Paula (Pós-Doc), do grupo da professora Ana Maria da Costa Ferreira; e a professora Leda Q. Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais e membro do Redoxoma, e sua estudante Grazielle Alves Ribeiro (Doutoranda).
Todos os estudos foram desenvolvidos durante os vários projetos Redoxoma: Milênio (2005-2008), INCT, NAP e, atualmente, CEPID, além de contarem com o apoio de projetos Temáticos da FAPESP (2002-2005; 2006-2010; 2011-2016).