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Pesquisa relaciona poluição atmosférica a danos ao DNA

PorBy Maria Celia Wider
• CEPIDRIDC Redoxoma
07/11/2013
São Paulo, Braszil
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Em artigo publicado no periódico Chemical Research in Toxicology, a professora Marisa H. G. Medeiros e seu grupo, do Instituto de Química da USP e do Redoxoma¹, apresentaram, pela primeira vez, evidências de que a presença de concentrações aumentadas de modificações em um nucleosídeo de DNA em amostras de urina de moradores de um centro urbano está relacionada à poluição atmosférica. A formação de adutos de DNA é considerada um aspecto crítico dos mecanismos de toxicidade de acetaldeído e crotonaldeído, presentes na fumaça do cigarro e nas emissões de veículos.

“Esses aldeídos são mutagênicos, podem levar ao desenvolvimento de câncer. Nosso trabalho mostra aspectos dos mecanismos moleculares de patologias associadas à poluição urbana”, afirmou a pesquisadora.

No estudo, foram analisadas e comparadas amostras de urina de 47 moradores da cidade São Paulo e de 35 moradores de São João da Boa Vista, município rural no interior do estado. Fumantes, alcoólicos, pessoas com problemas de saúde e fazendo uso de suplementos alimentares e de medicamentos foram excluídos. Nas amostras dos voluntários residentes na capital, a concentração de adutos foi significativamente maior do que nas amostras do outro grupo (valores médios de 20,8 e 7,9 fmol de 1,-propanodGuo/mg creatinina, respectivamente).

“O que está indo para a urina é o produto do reparo do DNA e, se conseguimos ver níveis aumentados na urina, significa que adutos estão sendo formados em maiores níveis no DNA. As propriedades mutagênicas e carcinogênicas desses aldeídos estão relacionadas com a reatividade com o DNA. Esse resultado é uma assinatura da exposição a aldeídos”, explicou Medeiros.

Adutos do DNA

Acetaldeído e crotonaldeído são aldeídos genotóxicos gerados de forma endógena e exógena. Estão presentes na fumaça do cigarro e na poluição urbana, produzidos por exaustão veicular e emissões industriais. Aldeídos reativos são formados endogenamente no metabolismo do álcool e durante o processo de oxidação dos lipídios das membranas (lipoperoxidação).

Os aldeídos reagem com proteínas e com o DNA, formando adutos, que, se não forem reparados, provocam mutações e câncer. O uso de adutos exocíclicos de DNA como biomarcadores de estresse redox vem sendo foco da pesquisa da professora Marisa H. G. Medeiros e de seu grupo há vários anos.

Em 2011, os pesquisadores demonstraram a inequívoca formação desses adutos em células tratadas com acetaldeído isotopicamente marcado. O trabalho foi publicado no Journal of the American Chemical Society (J. Am. Chem. Soc., 2011, DOI: 10.1021/ja2004686).

No momento, o grupo trabalha na detecção dos adutos nos pulmões de ratos tratados com acetaldeído marcado.

Poluição atmosférica e políticas públicas

A poluição atmosférica das grandes cidades, gerada por emissões veiculares e industriais, vem sendo associada a diversos problemas de saúde e ao aumento da mortalidade em grupos de várias idades.

Em outubro de 2013, 24 especialistas de 11 países se reuniram na Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês), em Lyon, na França, para avaliar a carcinogenicidade da poluição do ar e concluíram que a exposição ao ar poluído aumenta os riscos de desenvolvimento de câncer. A IARC é vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS).

Na região metropolitana de São Paulo, onde circula uma frota de cerca de 7,4 milhões de veículos, aldeídos genotóxicos presentes na atmosfera são um grande fator de risco para a saúde da população.

Por isso, um aspecto importante da possibilidade de detecção de adutos de DNA na urina é o desenvolvimento de um método não invasivo que permita o monitoramento da exposição da população a aldeídos presentes na atmosfera. Esse monitoramento pode fornecer informações para a formulação de políticas públicas que reduzam os efeitos nocivos da poluição atmosférica.

“Pretendemos ampliar esse estudo, analisando e comparando amostras de urina de moradores de diferentes bairros na cidade de São Paulo e de diferentes cidades”, concluiu a pesquisadora.

O artigo Elevated α-Methyl-γ-hydroxy-1,-propano-2´-deoxyguanosine Levels in Urinary Samples from Individuals Exposed to Urban Air Pollution, de Camila C. M. Garcia, Florêncio P. Freitas, Angélica B. Sanchez, Paolo Di Mascio, e Marisa H. G. Medeiros, pode ser lido por assinantes aqui.