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Ohara Augusto recebe título de Professora Emérita do Instituto de Química da USP

PorBy Maria Celia Wider*
• CEPIDRIDC Redoxoma
12/05/2025
São Paulo, Braszil

A professora Ohara Augusto, referência na área de bioquímica de radicais livres e oxidantes, e o professor Henrique Eisi Toma, um dos nomes mais reconhecidos da Química no Brasil, foram agraciados com o título de Professor Emérito do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP). A cerimônia de outorga aconteceu no último dia 8 de maio, no auditório do IQ-USP, e celebrou a trajetória de excelência científica e a contribuição duradoura dos dois cientistas à pesquisa e à formação acadêmica no país.

Professores: Henrique Eisi Toma, Pedro Vitoriano de Oliveira, Shaker Chuck Farah e Ohara Augusto
Foto: CEPID Redoxoma

Durante a cerimônia, o diretor do IQ-USP, Pedro Vitoriano de Oliveira, destacou o caráter simbólico da homenagem a duas figuras fundamentais do Instituto de Química. “O professor Henrique é a memória e a história. Eu acho que tudo que ele nos mostra e cria faz parte da história desse Instituto e sem história a gente não vive, a gente morre. E a professora Ohara, a capacidade dela de aglutinar, juntar pessoas para trabalhar em temas fundamentais e importantíssimos de pesquisa. E, certamente, nos tempos mais próximos que eu tenho conhecimento, sua atitude fez com que vários outros processos e projetos fossem aglutinadores de grupos de pesquisa que só fortalecem, não só o Instituto, mas os próprios grupos.“

Em seu discurso, Henrique Toma destacou a importância do ensino experimental de Química, compartilhando sua experiência em um projeto colaborativo com outros cientistas para a produção de kits de ciências — uma iniciativa interrompida por falta de apoio político. Ele ressaltou especialmente o uso dos kits de Química durante a pandemia, trabalho que foi publicado no Journal of Chemical Education em 2021.

Ohara Augusto ressaltou o fato de ser a primeira mulher a receber o título de Professora Emérita do Instituto de Química. “Estamos um pouco defasados, mas tenho a plena convicção de que eu só abro a fila. Logo, muitas das minhas colegas estarão aqui nos acompanhando,” afirmou.

A cerimônia foi encerrada com uma apresentação do Duo Pujol, de flauta e violão, formado pelos músicos Fabio Ferreira e Lucas Vieira. No repertório, obras de Heitor Villa-Lobos, Astor Piazzolla e Jacob do Bandolim.

Professora titular sênior do Departamento de Bioquímica do IQ-USP e diretora do CEPID Redoxoma, Ohara Augusto construiu uma carreira marcada por descobertas científicas pioneiras e pela dedicação à formação de novas gerações de pesquisadores. Sua trajetória científica foi marcada por estudos pioneiros que remodelaram nossa compreensão dos processos oxidativos.

Professores: Shaker Chuck Farah, Ohara Augusto, Henrique Eisi Toma, Pedro Vitoriano de Oliveira
Foto: CEPID Redoxoma

Pesquisa pioneira sobre radicais livres

Graduada em Química pela USP, Ohara obteve o doutorado em Bioquímica sob orientação do professor Giuseppe Cilento. Iniciou a pós-graduação em 1972, no momento em que a ciência começava a discutir o duplo papel do oxigênio molecular: essencial para a vida, mas também gerador de espécies reativas com potencial tóxico.

Desde o início, sua pesquisa se concentrou em elucidar os múltiplos papéis dessas espécies químicas na saúde e na doença. Durante o doutorado, contribuiu para a descoberta de que redutores poderiam, paradoxalmente, gerar oxidantes in vivo. Com o objetivo de aprimorar técnicas de detecção de radicais livres, realizou pós-doutorados nas universidades da Califórnia, Berkeley, e San Francisco, onde se especializou em espectroscopia paramagnética eletrônica (EPR), técnica essencial para identificar, de forma inequívoca, radicais livres.

De volta ao Brasil, em parceria com a professora Shirley Schreier, criou o laboratório de EPR no IQ-USP, que se tornaria um centro de referência nacional, recebendo pesquisadores de diversas regiões do Brasil e da América Latina. Nesse laboratório, o grupo de Ohara continuou pesquisando mecanismos de toxicidade de medicamentos, demonstrou os danos causados por radicais livres ao DNA e ao RNA e caracterizou espécies oxidantes, como o radical carbonato. Este último trabalho, realizado em colaboração com o pesquisador Rafael Radi, do Uruguai, rendeu-lhe, em 2002, a Medalha de Biologia e Medicina da Sociedade Internacional de EPR.

Com a descoberta do óxido nítrico como mensageiro celular e o avanço da chamada Biologia Redox, a professora Ohara ajudou a consolidar o conceito de que radicais livres podem ter tanto efeitos deletérios quanto funções fisiológicas essenciais. Ela popularizou essa visão inovadora em seu livro paradidático “Radicais livres: bons, maus e naturais”(Oficina de Textos, 2006), buscando inspirar jovens pesquisadores brasileiros.

Sua pesquisa mais recente tem se concentrado nos efeitos biológicos de oxidantes derivados do tampão bicarbonato, o principal regulador do pH em mamíferos. Estudando a produção de radicais carbonato pela enzima superóxido dismutase 1 humana (hSOD1), seu grupo demonstrou que esses radicais podem induzir agregações proteicas associadas a doenças neurodegenerativas e à catarata. Além disso, seus trabalhos recentes sugerem que o peroximonocarbonato, outro oxidante derivado do CO₂, pode atuar na sinalização celular — uma linha de pesquisa particularmente relevante diante do aumento da concentração de dióxido de carbono no ambiente contemporâneo.

Ao longo de sua carreira, Ohara Augusto recebeu diversos prêmios e reconhecimentos, como o Lifetime Achievement Award da Society for Redox Biology & Medicine (2022), a Medalha para Biologia da International EPR Society (2002) e o Prêmio Mulheres Brasileiras na Química, concedido pela American Chemical Society e pela Sociedade Brasileira de Química (2022). Também integra instituições científicas nacionais e internacionais, como a Academia Brasileira de Ciências, a Academia de Ciências do Estado de São Paulo e a TWAS – The World Academy of Sciences.

Além de sua pesquisa, a professora Ohara também desempenhou um papel fundamental na construção de redes científicas colaborativas.

Redoxoma

Em colaboração com outros pesquisadores, Ohara Augusto foi uma das idealizadoras da rede Redoxoma, criada em 2006 por meio de um Projeto Milênio do CNPq. Segundo ela, a concepção da rede foi inspirada por iniciativas anteriores, como projetos temáticos liderados por cientistas brasileiros de destaque na área redox — entre eles, Rogério Meneghini, Anibal Vercesi e Etelvino Bechara — que, ainda antes do Projeto Milênio, já promoviam avanços significativos e articulação entre pesquisadores da área.

O Redoxoma teve continuidade em 2010, como Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), também do CNPq, e culminou, em 2013, na criação do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) Redoxoma, com financiamento da FAPESP.

“Uma das grandes satisfações que tive foi o Redoxoma, porque a rede potencializou as interações científicas e elevou a qualidade da pesquisa de todos os participantes. Também estimulou os pesquisadores a se envolverem mais em atividades educacionais e de divulgação científica, bem como de inovação e transferência de tecnologia. O projeto CEPID Redoxoma, dirigido por mim e por Francisco Laurindo, se encerra em agosto de 2026. O grupo, no entanto, segue forte e coeso, com novas lideranças e iniciativas, como a constituição de um CEPIX na USP, dirigido pelos pesquisadores Mauricio Baptista e Alicia Kowaltowski”, afirmou Ohara.

*Apoiada pela*Supported by FAPESP Proc 2024/04945-4