Geneticista francês ministra curso na pós-graduação da Bioquímica e fala sobre o avanço das pesquisas sobre envelhecimento e longevidade
Embora ainda não se saiba exatamente por que ou como envelhecemos, os cientistas já conhecem maneiras de diminuir a velocidade do envelhecimento e de aumentar a longevidade. É o que afirma o geneticista Hugo Aguilaniu, pesquisador da École Normale Supérieure de Lyon, na França, ao apontar o avanço das pesquisas sobre o envelhecimento e mostrar resultados obtidos em seu laboratório por meio de manipulação genética do nematoide Caenorhabditis elegans.
O professor Aguilaniu ministrou o curso Bioquímica e Genética do Envelhecimento na pós-graduação do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP, juntamente com as professoras Alicia Kowaltowski, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP e membro do INCT — Redoxoma, e Fernanda Marques da Cunha, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e membro do NAP — Redoxoma.
“É inacreditável o que estamos conseguindo fazer hoje no laboratório, temos a possibilidade de aumentar em dez vezes a longevidade de um organismo. E se conseguimos no C. elegans, na mosca drosófila, nos ratos, inevitavelmente isso também será possível no ser humano, mesmo em menor escala, considerando que o nível de complexidade é bem maior”, afirmou o pesquisador, em entrevista ao site do INCT — Redoxoma.
Como a questão do envelhecimento é também a questão das doenças associadas a ele, como câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, síndromes metabólicas e sarcopenia, o pesquisador e seu grupo querem identificar alvos críticos do processo de envelhecimento que possam se tornar alvos terapêuticos para combater doenças relacionadas à idade.
“Trabalhamos com a longevidade porque é algo fácil de medir. Mas o objetivo da nossa pesquisa é tratar as doenças associadas ao envelhecimento. E é isso o que acontece: cada mutação, cada manipulação que a gente faz tem um impacto sobre a longevidade e também um impacto positivo no combate às doenças associadas à idade.”
Maestros
As pesquisas na área do envelhecimento estão avançando com uma rapidez extraordinária. “O primeiro gene relacionado à longevidade foi descoberto no início da década de 1990, no C. elegans, que é um organismo extremamente simples. Agora já conhecemos moléculas capazes de aumentar a longevidade de mamíferos”, ressaltou Aguilaniu.
Segundo ele, o que os cientistas procuram são “genes maestros”, aqueles que têm a capacidade de controlar outros genes e, por isso, podem ter um efeito sistêmico no organismo. “Todos os genes são importantes, mas existem aqueles que são `upstream´, controlando vários processos”.
Um exemplo foi a descoberta feita por seu grupo do gene nhr-80, no C. elegans, que está implicado em processos ligados ao metabolismo e à resistência ao estresse. A superexpressão desse gene prolongou a vida do C. elegans em 150%. O trabalho foi publicado na PLOS Biology, em 2011.
O pesquisador explicou que os genes que regulam o processo de envelhecimento existem para regular outros processos, como a reprodução. Por isso ele tenta entender qual é a relação entre reprodução, nutrição e longevidade.
“Sabemos que o que você come tem um impacto direto sobre sua capacidade de se reproduzir e isso tem um impacto direto sobre sua longevidade. E é aí que estamos tentando achar os genes que são mediadores entre nutrição, reprodução e longevidade. O objetivo final é encontrar um modo de diminuir o impacto do envelhecimento sem alterar a nutrição e a reprodução”.
Sociedade
Como não se faz manipulação genética em humanos e testes clínicos para envelhecimento seriam necessariamente muito demorados e caros, Aguilaniu acredita que, com o avanço das pesquisas, serão desenvolvidos medicamentos para o tratamento de doenças associadas ao envelhecimento, que terão impacto sobre a longevidade.
“Por isso é importante que esse assunto seja discutido desde já. Aumentar em 5% a longevidade humana implica em enormes consequências sociais e econômicas. Os cientistas têm que colocar na mesa essa questão, que precisa ser discutida pela sociedade.”
Atualmente, um grande número de pessoas chega a uma idade avançada, principalmente nas regiões mais desenvolvidas do mundo, devido, entre outros fatores, ao desenvolvimento da medicina e a melhores condições sanitárias. A expectativa de vida no nascimento aumenta cerca de três meses por ano e, segundo a ONU, em 2050, quando a população mundial chegar a nove bilhões, haverá quase dois bilhões de pessoas acima dos 60 anos de idade.
Colaboração
No momento, Hugo Aguilaniu participa do Programa Cátedras Francesas do Estado de São Paulo, promovido pelo consulado Geral de França em conjunto com as universidades paulistas, do qual a USP faz parte.
Ele tem planos de intensificar a colaboração já iniciada com as professoras Alicia Kowaltowski e Fernanda Marques da Cunha em pesquisas sobre mecanismos do envelhecimento. “Uma pesquisadora de pós-doc do meu laboratório virá para a USP no meio do ano e vamos organizar um curso prático sobre o C. elegans, para abrir essa porta aqui na USP e começar a pesquisar”, disse.
O pesquisador destaca o bom nível científico e a cultura universitária do país. “O Brasil está crescendo e tem uma dinâmica muito positiva”.