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O que é metabolismo?

PorBy Maria Celia Wider
• CEPIDRIDC Redoxoma
27/10/2015
São Paulo, Braszil
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Livro de Alicia Kowaltowski explica metabolismo para público geral

Uma busca no Google pela palavra metabolismo nos traz, além de algumas definições básicas, inúmeras dicas sobre maneiras de acelerar o metabolismo para emagrecer. No entanto, do ponto de vista técnico, “acelerar o metabolismo” não quer dizer nada. Ou, mais precisamente, “esse termo não é dos mais adequados, porque o metabolismo tanto degrada quanto sintetiza moléculas (e, portanto, engordar rapidamente também envolve aceleração das vias metabólicas)”.

É o que explica a cientista Alicia Kowaltowski, professora titular do Instituto de Química da USP e membro do CEPID Redoxoma, no livro “O que é metabolismo? Como nossos corpos transformam o que comemos no que somos”, publicado pela editora Oficina de Textos.

Divulgação

Kowaltowski estuda o metabolismo energético há quase 25 anos, desde sua Iniciação Científica no laboratório do professor Anibal Vercesi, enquanto estudante de Medicina na Unicamp. Atualmente, ela pesquisa as relações entre dietas, estresse oxidativo e envelhecimento.

Motivada pela curiosidade das pessoas que constantemente lhe fazem perguntas sobre metabolismo e pela constatação de que existe uma enorme desinformação sobre o assunto, a pesquisadora resolveu explicar para o público em geral “essa rede altamente complexa de reações químicas que consistem o metabolismo e definem o que é um ser vivo, capaz de transformar o mundo à sua volta”.

O desafio foi trazer para o público conceitos científicos em linguagem clara e acessível. Na realidade, mais do que um desafio, trata-se, para ela, de uma necessidade e de um dever. “As pessoas têm o direito de compreender, pelo menos de forma geral, aquilo que fazemos”, escreve a autora no prefácio, acrescentando que essa compreensão permite que as pessoas se protejam de informações errôneas e distorcidas.

Para mostrar como os alimentos são convertidos nas moléculas que constituem nosso organismo e em energia na forma química de ATP (adenosina trifosfato), a moeda energética das células, Kowaltowski explica o que são e como funcionam as mitocôndrias, as “baterias das células”. Descreve como os hormônios regulam o metabolismo e fala de vitaminas e minerais. Conta, ainda, uma breve história do oxigênio.

A autora dedica um capítulo aos organismos-modelo, de bactérias a animais, e explica como seria impossível fazer ciência sem esses organismos. O leitor fica sabendo, por exemplo, que o metabolismo do fermento de pão (Saccharomyces cerevisiae) é muito parecido com o nosso, o que o torna o organismo-modelo eucariótico mais usado em estudos laboratoriais.

O texto é recheado com informações históricas e anedotas sobre as descobertas científicas, levando o leitor a apreciar como se dá a construção do conhecimento científico.

No livro, Kowaltowski também se posiciona sobre assuntos que entram na esfera de políticas públicas, como a importância de se manter o financiamento da ciência básica e a defesa do uso de plantas transgênicas. “As pessoas recebem muitas informações sobre esses assuntos, mas não recebem informações diretas dos cientistas”, afirma ela.

Sobre dietas e evolução

Mas, é claro, o que mais desperta o interesse das pessoas quando se fala em metabolismo são as dietas para emagrecer.

E é justamente o radicalismo de algumas delas que preocupa Kowaltowski. Isso porque falta à maioria das pessoas educação científica para avaliar as informações que recebe. “Não existem fórmulas mágicas, desconfie de qualquer fórmula mágica”, alerta ela.

Por exemplo, cortar completamente carboidratos da alimentação é uma maneira eficiente de perder peso. Mas o custo em termos de saúde é alto. Como esclarece a autora, tais dietas podem levar à perda de massa muscular e à formação de produtos ácidos e de altos níveis de ureia.

Por outro lado, evitar o consumo de produtos animais também não se justifica do ponto de vista metabólico. A ingestão de proteínas animais é recomendável porque as proteínas do nosso corpo só podem ser produzidas a partir de outras proteínas, e as proteínas vegetais podem não dar conta de fornecer todos os aminoácidos necessários.

Segundo a pesquisadora, a literatura científica aponta como sendo saudável uma alimentação que inclua carboidratos, proteínas e gorduras em moderação, obtidos de uma variedade grande de alimentos frescos.

Embora haja diferenças hormonais entre as pessoas e até na mesma pessoa em diferentes fases da vida em relação à tendência maior ou menor de ganhar peso, para quem quer emagrecer a dica continua sendo: “coma menos, gaste mais”.

Outro problema que chama a atenção da pesquisadora é o sentimento de culpa das pessoas quando estão um pouco acima do peso. Isso faz com que tenham uma relação tanto física quanto mental pouco saudável com a comida, o que as prejudica ainda mais.

Talvez elas não saibam, mas a habilidade dos seres humanos de engordar facilmente e o gosto por alimentos altamente calóricos têm raízes evolutivas.

“Nós somos evolutivamente preparados para sobreviver pouco tempo e na presença de comida escassa e difícil de obter, mas vivemos hoje a realidade oposta, com vidas longas e alimentação farta, de fácil obtenção”, escreve Kowaltowski.

A autora lembra que, do ponto de vista médico, nem a obesidade nem a magreza exagerada são desejáveis. E acentua que a visão negativa que se tem hoje em dia da presença de gorduras no corpo não corresponde ao que é cientificamente comprovado como saudável.